quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Notícias da Minha Terra...

Médico não detecta concha no esófago

Celeste não falava quando entrou no Hospital de Santo Tirso. Salivava e fazia ruído ao respirar. Não foi tratada e uma enfermeira ainda lhe disse para não lhe sujar a bata. Foi assistida no S. João, no Porto, onde ficou internada.

Se o incidente foi inusitado - na passada quinta-feira, Celeste Soares engoliu a concha de uma amêijoa enquanto comia o interior -, o que veio depois faria corar Hipócrates. Na unidade de Santo Tirso do Centro Hospitalar do Médio Ave, onde deu entrada cerca das 13.30 horas, esta mulher de Santa Cristina do Couto foi, alegadamente, alvo de negligência médica.

Com uma concha inteira presa no esófago, sem conseguir controlar a salivação e a respirar com dificuldade, na Urgência do CHMA Celeste encontrou uma enfermeira consumida com a limpeza da bata e um médico ("espanhol ou brasileiro", recorda a utente) que lhe garantiu nada ver na garganta. "Ele meteu-me uma coisa em inox na boca e disse: 'Não vejo nada'", relatou a mulher, ao JN, dizendo que não foi tratada ou medicada.

Transportada para o Hospital de S. João, no Porto, por iniciativa do marido e da irmã - de acordo com os relatos ouvidos pelo JN, o médico de Santo Tirso nunca sugeriu a transferência da paciente ou a impossibilidade de ali proceder ao tratamento adequado -, Celeste Soares foi logo preparada para uma intervenção cirúrgica assim que chegou à Urgência, cerca das 17 horas. O resto do tempo foi passado na unidade de Santo Tirso e na viagem para o Porto, assegurada pelos Bombeiros Tirsenses, pois a ambulância do CHMA não fez o transporte. Celeste foi, então, medicada para as dores e os nervos abrandarem. "Entrei no S. João e, passado um bocado, deixei de berrar", conta. Entretanto, a cirurgia seria dispensada, pois a concha foi removida por aspiração.

Em Santo Tirso, o marido ainda perguntou ao médico se não fazia uma radiografia, ao que este terá respondido: "'A sua esposa está a respirar bem, e o raio X não acusa nada. Até pode ser só arranhado'", narra a mulher, que ficou internada no S. João até domingo.

O diagnóstico deste hospital, a que o JN teve acesso, aponta, inequivocamente, para um "corpo estranho no esófago", depois designado por "casca de bivalve". "Se eu não saía de Santo Tirso, morria", revolta-se Celeste Soares, que fala em "negligência".

A amargura passeia-lhe ainda na memória pela voz de uma enfermeira. "Eu estava tão aflita e ela só se preocupou se eu lhe sujava a bata", recorda. "Ela disse: 'Não cuspa para a minha bata'".

Contactado pelo JN, o Hospital de Santo Tirso não esclareceu o caso.

Por: ANA CORREIA COSTA

fonte: JN

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